quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Tá em família, tá em casa

A maioria das garotas, salvo algumas exceções, já tiveram algum sonho com um primo, nem que seja nos remotos e românticos tempos de adolescência. Pode ser aquele familiar distante que pouco vê nos raros encontros da parentada. E comigo não foi diferente.

Desde pequenina tinha uma quedinha por um primo meu, mas aqueles primos que você diz tudo menos que é seu parente; completamente diferente fisicamente, onde os laços familiares estão apenas nos sentimentos e na consideração, por que na genética não temos nada a ver: loiro, olhos claros, altura mediana e sempre “fortinho”- pra ser simpática e não dizer “gordinho” - nada a ver comigo!

Porém sou uma das poucas e felizes primas que realizaram o sonho infantil. Eu e meu primo tivemos um “caso familiar” que durou, entre encontros, idas e vindas, uns dois anos. Fiquei com o meu primo a primeira vez num dia de Natal - quer coisa mais família que essa?

Depois de um almoço familiar natalino, todos os primos da minha geração rumaram pra um barzinho, fui junto, e comemoramos o nascimento do menino Jesus de forma pouco ortodoxa, jogando bilhar e enchendo a cara. Meu querido primo tinha que me deixar em casa (estava de carona) e acabamos ficando juntos na porta da minha residência.

Já estava feliz com a minha conquista, mas nosso caso acabou tomando proporções inimagináveis: nos enrolamos durante anos! Nos encontrávamos de forma esporádica, sem compromisso nenhum, uma coisa saudável e gostosa de se sentir. Íamos tomar cerveja juntos, conheci seus amigos de balada e de faculdade. Gostávamos da companhia um do outro e isso nos fazia bem, pelo menos pra mim... eu acho!

Durante o tempo que ficamos juntos passamos por muitas coisas engraçadas, desde coisas amenas, como me banhar de cerveja num boteco da Paulista, ou atentar contra a saúde das nossas queridas tias-avós.

Digamos que não éramos muito discretos na nossa relação e nosso caso foi parar nos ouvidos nada surdos dos mais velhos da família. E a coisa passou bem de ouvido; um disse pro outro que disse pra um, e tomei conhecimento que toda família sabia pelas palavras da minha mãe:

- Filha, sua família toda já sabe de você e do seu primo.
- Como ficaram sabendo?
- Disso eu não sei! Só sei que uma das tias-avós chegou pra mim, no meio da missa de sétimo dia da irmã dela, e disse que sua bisavó deve estar se revirando no túmulo por vocês estarem juntos.

Como sabia que meu caso com meu primo não teria tanto futuro, nem liguei. Não era inconseqüência, era comodismo mesmo, confesso!

Continuamos nos encontrando, ficando e bebendo juntos. Fomos até a um aniversário de um primo nosso e quando a irmã dele - minha prima também - nos viu e falou: “Vocês perderam a vergonha na cara mesmo!”, e todos gargalharam daquela situação inusitada pelo moralismo familiar. Afinal de contas, até hoje não temos vergonha na cara!

Porém tudo que é legal acaba enjoando ou acaba simplesmente. E foi isso que aconteceu: acabou! Também, depois do que meu primo me fez passar...

Certa noite meu primo me liga:

- E aí, prima? Vamos sair? Tô te pegando na sua casa daqui a pouco.

Rumamos para um posto de gasolina para encontrar os amigos dele, lá as conversas foram regadas a vodca com energético, menos eu, que fiquei na água mesmo. Tinha acabado de sair de uma crise de sinusite e estava dopada de tanta amoxilina, e qualquer mistura alcoólica faria com que eu não respondesse por mim.

Depois de algumas horas de conversas animadas, eu era a única pessoa capaz de responder por mim ou por qualquer outro ser humano na face da Terra. Meu primo-amante já estava até meio deformado de tanto beber. Confesso que fiquei com medo daquela cara medonha e agradeci a Deus de saber o caminho de casa. Pois o teria que fazer isso sozinha.

Lá pelas tantas da madrugada me vi obrigada a carregar meu primo nos braços -tarefa difícil dado o peso e físico avantajado do meu querido parente. Consegui enfiar meu primo no carro dele – outro problema: como dirigir aquele carro? Aquilo lá não era um carro; era um caminhão perto do meu humilde carro mil!

Algum ser divino me guiou até minha casa, mas ao chegar, o que fazer? Deixar meu ficante dormindo no carro no meio da rua? Mas poxa, ele é meu primo? É da família! Não pode!

Respirei fundo recolhi as poucas forças que ainda tinha – grande parte dela tinha ido embora ao carregar meu primo do posto até o carro – e o levei até meu apartamento. Joguei aquela massa gorda e bêbada na minha cama e fui deitar na cama da minha mãe; sorte que ela estava viajando! Porém não consegui dormir, pois o moço deu bastante trabalho. O sol já raiava e meu primo vomitava.

Já era de tarde quando ele acordou, sem lembrar de nada. Viva a amnésia alcoólica!; pena que eu lembro de tudo!

Tive que arrumar os rastros deixados por ele: banheiro imundo, lençóis com cheiro etílico e uma imagem arranhada em proporções profundas. No dia seguinte ele me ligou pedindo desculpas de coisas que ele nem se lembrava! Sorte a dele que é da família. Se fosse qualquer outro Zé-Mané, não queria ver nem pintado de ouro fazendo polichinelo pelado na minha frente! Mas é aquela coisa: tá em família, tá em casa!

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