domingo, 27 de julho de 2008

Fora em uma celebridade

Têm coisas que só acontecem quando estamos em um país estrangeiro, como dar foras em celebridades, afinal de contas, você é de outra nação e nem é obrigada a saber quem são os homens por quem as mulheres babam quando vêem uma novela ou uma revista de fofocas.

Dias atrás fui a uma casa noturna com intuito de prestigiar minhas amigas que iam desfilar e de quebra comer uma coisa gostosa e dançar um pouquinho. Enquanto esperávamos a hora do desfile, estávamos fazendo a social na mesa do restaurante do lugar: cumprimentando pessoas nem sempre agradáveis, bajulando uns insuportáveis e sendo apresentadas a outros que não tínhamos idéia de quem seriam.

Num dado momento apareceu na mesa um homem bem bonito, mas sem simancol, amigo do dono da minha agência que o convidou a se sentar do meu lado, assim, eu fiquei bem no meio dos dois (Que situação… amarrei a cara na hora!).

O distinto nada-cavalheiro puxa uma conversa e, como não posso ser desagradável, dou continuação...

- Você é brasileira?
- Sou sim.
- Há quanto tempo está no México?
- Quatro meses.
- E quais cidades já conheceu? Já foi à Cancun?
- Já fui a algumas cidades, mas Cancun ainda não. Ainda não tive a oportunidade nem o convite.
- Mas você está sendo convidada agora! Vamos para Cancun comigo!
- Epa, peraí! Nem te conheço! Para que iria para Cancun com você!

FORA!

O dono da minha agência me chama e me pergunta:

- E aí? O que achou dele?
- Achei que ele tem saúde. É isso que importa!

FORA!

A conversa na mesa continua, a falsidade está no ar e aquele ambiente artificial perdura.

Depois de uns minutos o tal homem bonito acende um cigarro. Existe no México uma lei que proíbe o fumo em qualquer ambiente fechado. Outro sinal de falta de educação do devido rapaz e pra minha infelicidade a fumaça de seu cigarro vem bem em minha direção e engulo a devida não-matéria junto com meu último sushi – o último seria o mais gostoso... Tenho uma leve tosse e pra demonstrar minha insatisfação com tal ato, pego o cardápio e o abano na minha frente pra afugentar a fumaça que teimava em me perseguir.

- A fumaça te incomoda?

Num outro acesso de tosse e com cara de pouquíssimos amigos, respondo:

- Não! Imagina...

FORA!

- Creio que vou fumar lá fora.
- Agradeço muito!

FORA!

Algumas semanas depois venho saber com uma amiga mexicana quem era o tal cara que recebeu tantos foras da minha parte: trata-se de Leonardo Garcia, um dos atores mais sediados do México, que qualquer mexicana daria o mundo para estar ao lado dele numa mesa ou sua própria vida para ir pra Cancun numa viagem romântica com um dos maiores galãs da TV mexicana. A título de comparação: seria um Paulinho Vilhena na época de pegador.

Na mesma semana que soube que Leonardo Garcia era uma celebridade nacional, o vejo na capa de uma revista de celebridades com a seguinte manchete: Depois de outro relacionamento frustrado, Leonardo Garcia declara: “Estou à procura do verdadeiro amor!”

Ai, querido, enquanto você não souber se portar em uma mesa ou convidar a primeira que vê pela frente pra uma viagem a Cancun, nenhuma mulher que não te conheça será verdadeira contigo...

terça-feira, 22 de julho de 2008

Inventário

Nas últimas três semanas estive na minha cidade natal. Durante minha estada em terras mexicanas, nunca pensei que o amor pelo meu país e por todo seu território fosse tão grande, mas descobri nesta minha visita que a verdadeira riqueza vai além das belezas naturais e das magníficas cores que só existem no Brasil.

Toda esta fortuna está presente nas pessoas que vemos nas ruas e naqueles, especiais, que fazem parte da nossa vida.

Como é bom tomar uma cerveja num boteco qualquer e ver duas garotas descerem a rua num skate ou conversar sobre as maiores barbaridades com seu quase primo, que hoje é um dos seus melhores amigos.

Como é bom dormir no colo da sua mãe enquanto ela faz o cafuné que só ela sabe fazer, ou comer o arroz e feijão que só ela sabe fazer, ou acordar no meio da noite e perceber que o cobertor te cobre daquele jeito que só ela conhece.

Como é bom não idealizar demais as promessas de seqüestro, pois elas sempre acabam em um seqüestro relâmpago fajuto.

Como é bom abraçar seus amigos na sinuca perto da faculdade e debater com os olhos mais lindos que você já viu questões de nenhum interesse nacional e, ainda depois, ser zoada por seus iguais, já que você não tem mais credibilidade perante o grupo, pois ficou com um argentino boy-band detentor de "mulets".

Como é bom ver o São Paulo jogar, gritar gol e, de quebra, tirar uma com a cara do seu eterno companheiro de Morumbi, pois ele caiu nas graças de uma tiazona enxuta.

Como é bom descobrir depois de tantos anos que as amizades virtuais também são reais, mesmo que você só tenha visto seu amigo pela web-cam, mas pelo menos, você sabe que ele existe.

Como é bom estar numa exposição de Machado de Assis e enquanto você está num momento de ápice intelectual-crítico-retórico-literário, repara em dois meninos que flutuam pelo ambiente com seus tênis de rodinhas e com luzes que piscam.

Como é bom encontrar suas amigas pra fofocar e constatar que a fofoca é a maior prova de cumplicidade que pode existir.

Como é bom falar com suas amigas, mesmo que seja pelo telefone, e sentir que aquele abraço apertado e sincero é capaz de extravasar os cabos telefônicos.

Como é bom fazer aniversário e estar entre os seus, pois é nesses momentos que você descobre que foi importante na vida de algumas pessoas e que elas são muito importantes pra você – estão presentes familiares próximos e distantes, amigos de todas as fases da sua vida, até ex-namorados ou ex-ficantes, mas nunca ex-amigos. É com essas pessoas que você descobre que o carinho é o melhor sentimento que você pode nutrir por alguém, pois ele nunca se esgota.

Como é bom estar em casa e saber que aqui é o meu lugar e que é aqui, no Brasil, que estão as coisas, as pessoas, as situações, as cores que te fazem sorrir e que dão aquela motivaçãozinha que só o ambiente de casa sabe dar.