terça-feira, 28 de outubro de 2008

Homenagem a minha avó

Escrevi este poema no dia 11 de novembro de 2004. Faz tempo, mas a pessoa cantada nos meus versos está sempre presente.

Foi festa, amanheceu
Acordei
Fui preparar o café e sentimos sua falta.
Pediram para te chamar
À margem da sua cama me postei
Seu corpo inerte - me aproximo
Seu rosto café-com-leite; uma beleza desafiadora das convenções, seu nariz quebrado, sua boca sem dentes, seus cabelos de algodão, seus olhos fechados.
O ser que mais amei estava de olhos fechados e não abririam mais.
Seus pulsos gelados, seu corpo ainda quente.
Não era verdade, era tudo brincadeira, como nos meus quatro anos você estava brincando
Te abracei, te beijei tentei te acordar e não consegui.
Enquanto outros se afastavam, continuava tentando,
mas o algodão celestial se aproximou dos seus cabelos e nunca mais brincarei com as veias das suas mãos.


quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Monumento

Outra dedicada aos meus amigos:

Estava conversando no MSN com um querido amigo, companheiro de cervejas e besteiras, e estávamos falando sobre futuro, casamento e criação de pimpolhos. Num dado momento disse que era mais provável ele ter êxito na construção familiar que eu, e ele dispara:

Manu, se você morrer solteira e sem filhos, teremos que erguer um monumento à sua homenagem em cada cidade do mundo e todos os homens passarão por ele e tirarão o chapéu, batendo no peito e pedindo perdão pela ignorância masculina.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Frase antiga

“O que eu quero nessa vida é amar e ser amada”.

Quem me lembrou dela foi um amigo de anos de escola, que acompanhou meu crescimento desde os sete anos de idade. Vimos nossos desenvolvimentos e no meio de uma aula de colegial, época em que estava começando a conhecer o amor (coisa mais clichê, mas é verdade), proferi esta frase, e o mais engraçado é que continuo querendo a mesma coisa.

Desde os meus quatorze anos sempre quis isso e o desejo persiste.

Posso dizer que já amei e fui amada, se não, fingiram muito bem.

Não sei se este é o mantra da minha vida, que me seguirá sempre, mas sigo na procura e concretização do meu máximo querer.

O que me conforta diante de tudo isso é que tenho amigos, como o que me lembrou desta frase, detentores do meu amor e que com os quais posso ter certeza de que sou amada; um amor sem fingimento, de coração aberto. Mas que a procura continua, isso sim, continua.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Um dia de sonho?

Era o dia-sonho para muitas mulheres, mas para ela, aquilo mais parecia um pesadelo.

Não queria nenhuma maquiagem muito menos um penteado ornamentado. Abdicou do dia dedicado especialmente àquela ocasião significativa para tantas. Se olhou no espelho, se maquiou como se fosse à padaria, prendeu o pedaço de tule nos cabelos, deixando grampos à mostra no alto da cabeça, vestiu o único vestido branco que tinha, que de tão desgastado, mais pareciam retalhos.

Entrou num carro qualquer e rumou para o lugar onde confirmaria a decisão para sua vida inteira. Aquele que era o sonho para muitas mulheres, para ela que esperara tanto por aquela data, agora só queria fugir, se enfiar num buraco qualquer e nunca mais voltar.

Na frente de uma construção sem importância pra ela, respirou e pensou: Não! E foi para a entrada pra respirar um ar que não havia. Foi quando seu pai pegou sua mão e com um olhar de tristeza, disse: Vamos! Novamente se fitou no espelho, reparou numa imagem sacra qualquer e pediu: Me ajuda!

Seus pés estavam apertados por uns sapatos comprados na correria do momento, queria tirá-los e foi isso que fez diante de uma grande porta. Enquanto seus dedos respiravam e ela sentia um pouco de liberdade, a mesma porta se abre diante de si. Apertou a única flor que tinha nas mãos e deu um ligeiro e tímido passo com seu pé descalço.

Estavam lá os mesmos amigos de sempre, dos churrascos de final de semana, de cinemas despretensiosos, divididos por um corredor decorado por flores que ela odiava, e no fim desse corredor estava um companheiro de pouco tempo, mas não para a vida toda.

Com a flor numa mão e o pai na outra, ela seguia reto com os olhos baixos e rasos. Ao subir os olhos viu na sua frente um homem com um terno alugado, que assim como ela, não estava certo se queria mesmo estar ali.

Depois de um beijo na testa, seu pai a entregou para aquele que a aguardava. Olhos indecisos de vêem e se ajoelham diante de um desconhecido.

No meio do sermão daquele velho incógnito, eles se voltaram e ele pergunta: Será que vai dar certo?, e ela: Acho que não...

As palavras ditas naquele momento pouco importavam para eles, mas uma frase chamou a atenção: Fale agora ou cale-se para sempre. Foi quando os dois deram um longo suspiro, se levantaram e foram embora.