segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Não sou princesa

Não sou princesa. Não nasci em família rica. Nasci numa família que trabalhou muito para me dar o que de melhor poderiam me oferecer e, em merecida retribuição, não tiveram que se preocupar com os custos de uma faculdade, um mestrado e uma pós-graduação, que foram “pagos” com meus esforços intelectuais, ou com o meu dinheiro mesmo.

Não sou princesa. Não tenho fada madrinha. Todos os vestidos que tenho, fui eu quem comprei; o carro que tive não surgiu de uma abóbora, muito menos meu chofer é um rato, é, no máximo, um motorista de táxi.

Não sou princesa. Não tenho um dragão guardando meu castelo. Tenho que sair de casa e, eu mesma, mata os dragões que aparecem quando menos espero.

Não sou princesa. Já espetei meu dedo em agulhas várias vezes e nada aconteceu.

Acredito em “felizes para sempre”, mas, como não sou princesa, acho que não tenho mais paciência para aguardar a boa vontade do meu príncipe.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

#primeiroassédio

Esta semana, tivemos um caso lamentável de assédio nas redes sociais com uma participante de 12 anos no Master Chef Jr e como reação uma hashtag para relatar o #primeiroassédio tomou conta do Twitter.

O que eu tenho a ver com isso? Tudo! Uma pinçada em todos esses elementos que pipocaram na rede tem tudo a ver comigo, afinal de contas eu tinha 12 anos (idade da Valentina) quando sofri meu #primeiroassédio.

Aos 12 anos tirei fotos para uma revista de agência de modelos. E logo de cara, fui capa da dita revista e tinha a infantil esperança de fazer algum comercial ou programa de TV.

Na época, morava em um condomínio e tinha como vizinho um ator que fazia parte do elenco de um programa infantil do Sérgio Mallandro no SBT. Pensei que ali havia uma oportunidade e conversei com ele e a esposa pra tentar me “ajudar”. Ela foi super prestativa e disse pra eu deixar uma revista na casa deles; o velho permaneceu calado.

Poucos dias depois, animada com a revista em mãos, fui ao apartamento deles. Toquei a campainha e o ator me atendeu, pegou a revista, deixou em cima de um móvel e agradeceu. Mas não agradeceu com um obrigado, agradeceu segurando minha cabeça para beijar minha boca com uma boca murcha e fedendo a café.

Saí correndo e contei pra minha mãe. Imediatamente denunciamos o caso para o síndico e, para nossa surpresa, aquele não era o primeiro caso. Mesmo assim, nada foi feito! Irritada com aquela omissão, contei o que aconteceu pra minha “turminha do play”. A porta do apartamento do velho nojento foi alvejada por cuspes, chutes e acometida por um princípio de incêndio.

A sequela do meu #primeiroassédio é não conseguir beijar ninguém que esteja com bafo de café. Até hoje tenho vontade de vomitar.

Pra minha sorte, mudei do condomínio e esqueci o nome do filho da puta. Se quiser, procuro e acho, mas não quero! Quero que ele morra e espero que isso já tenha acontecido.

Assim como Valentina, era uma menina bonita de 12 anos, mas ser menina, nem ser bonita, nem ter 12 anos legitima qualquer ação que nos fira de qualquer forma, e nenhum fator nos torna “vagabundas” que “pedem pra que isso aconteça”.

Esta merda sempre esteve no ventilador, só que agora se oculta em perfis falsos e é “protegida” pelo ambiente virtual.

Pelo que vi, os perfis que molestaram Valentina foram excluídos, mas o buraco é mais embaixo. A cultura do assédio existe, desde a omissão do síndico até o “estupra mas não mata”. A impunidade está no coletivo lotado, na calçada da obra, no “segurem suas cabritas que meu bode está solto”, na educação que você dá pros seus filhos!