quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O Homem de Neardertal está entre nós

Podem dizer o que quiserem, mas garanto que a maioria das pessoas criadas por vó são super educadas; eu não sou uma exceção. Porém a educação dada pela minha querida avó tem suas peculiaridades. Ela me ensinou a ser comportada, educada, simpática, mas quando pisam no calo, jogue as boas maneiras pra longe e seja estúpida, grossa, só que sempre com elegância.

Tive que usar desses ensinamentos quando aceitei a proposta de ajudar um fotógrafo conhecido de uma amiga minha a incrementar seu portfólio.

Combinamos que faríamos as fotos num sábado de manhã e que ele iria me buscar no meu sagrado lar às 7 da manhã.

Como teria um compromisso “profissional” cedinho, recusei convites na sexta-feira, porém o mesmo não aconteceu com o dito fotógrafo. Ele chegou na hora marcada - até aí beleza – virado da balada, cheirando a fumaça e exalando uma moderada quantidade de álcool – nada legal isso! Que exemplo de profissional!

O dia nem tinha começado e eu já estava de saco cheio, isso porque não sabia o que estava por vir. Poxa! Eu deixei de sair pra fazer um trabalho e a recíproca não acontece?

Pedi ajuda pro aspirante a fotógrafo com as roupas que usaríamos no ensaio e ele entra na minha casa berrando, como se meu lar doce lar fosse a balada podre de onde vinha. O descanso da minha mãe, que dormia o sono dos justos e trabalhadores pagadores de impostos, foi interrompido e minha educação já tinha ido pras cucuias.

Porém minha paciência daquele dia acabou definitivamente ao conhecer um dos amiguinhos do aspirante a Mário Testino. Era um legítimo exemplar do homem de Neandertal, bombado e anencéfalo. Na hora reforcei minha teoria de que você conhece um homem realmente a partir dos amigos que ele tem.

Entrei no carro do homem das cavernas, que vinha da balada junto com o fotógrafo e que nos daria uma carona até o estúdio onde faríamos as fotos. Como uma aluna exemplar das aulas de etiqueta social, dei bom dia para o ser humano com idade mental inferior a 4 anos, e percebi que ele tinha passado dez vezes na fila dos “sem-noção”.

O curto percurso percorrido foi suficiente para eu relembrar os ensinamentos da minha saudosa avó: “Te falou algo desagradável, retruque com estupidez e classe!”.

- Nossa, como você é cheirosa! Melhor que esses marmanjos aqui do lado.
- Melhor assim do que com cheiro de balada e de bebida.
- O fotógrafo tinha razão. Você é bem bonita!
- Valeu.
- E uma mulher bonita assim não tem namorado?
- Não!
- E porque não?
- Sei lá, pergunta pros meus ex-namorados.
- Esses caras são uns idiotas de terem deixado você escapar. Mulher bonita não pode ficar sem namorado!
- E desde quando uma mulher é peixe pra escapar e só é feliz se tem namorado?

Ao ver que o clima não estava dos mais amistosos, o fotógrafo tentou desconversar:

- CD legal esse seu. Onde você arranjou?, perguntando para o motorista sem-noção,
- Uma mina que eu pegava gravou pra mim.

Indignada com o emprego de tal verbo para se referir a uma garota, retruquei:

- Mulher não se pega, se conquista!
- Ué, mas eu peguei ela umas duas vezes.
- Não importa quantas vezes você beijou a menina!
- Então é como? Catei? Comi?

Meu sentimento de indignação chegava ao seu nível máximo e nem respondi. Meu silêncio e minha cara amarrada pelo retrovisor eram evidências de que desaprovava a conduta primitiva, machista e retrógrada daquele descendente não evoluído do chimpanzé.

Pra minha felicidade, chegamos ao nosso destino, e infelicidade, tive que me despedir do chauffeur devorador de bananas. Ele dispara:

- Queria tanto te ver novamente...
- Vai ficar na vontade!
- Por quê?
- De exemplares diretos dos macacos não-evoluídos como você eu prefiro distância! E virei as costas.

As fotos foram feitas, o resultado ficou satisfatório, mas o que tirei de mais produtivo daquela manhã fatídica foi a certeza de que alguns homens têm salvação, mas outros não; esses não foram beneficiados com as mutações evolutivas positivas para o bom relacionamento com o sexo feminino.

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