Muito se falou sobre a questão da arbitragem do Carlos Eugenio Simon no jogo do Fluminense contra o Palmeiras, mas muito mais se falou sobre a reação do Belluzo, presidente do Palestra.
Desde o ocorrido, tenho escutado no rádio e nas mesas redondas da TV, várias críticas a este senhor que caiu de para-quedas no mundo dos cartolas, que sempre teve atitudes que deveriam ser copiadas por muitos dos seus colegas.
É só prestar atenção nas frases do Belluzo que reparamos que ele não é um cartola qualquer, além disso, ele é um amante do seu time do coração, e consequentemente do futebol. Muitos esquecem que todos os amantes do futebol são movidos a paixão, por isso, para mim, ele é um dos cartolas que mais deve ser respeitado nesse mundo tão cheio de disse-me-disse.
O Belluzo provou que é um dirigente com sangue nas veias, digno do sobrenome italiano que carrega. Quem nunca teve vontade de dar uns sopapos depois de um erro nítido do juiz? Quem nunca falou coisas a mais e teve que ser homem suficiente pra admitir o que falou no dia anterior? Quem nunca agiu sob influência da paixão pelo seu time?
Foi exatamente isso que o senhor Belluzo fez! Agiu sob paixão. Então antes de, nós, torcedores, julgarmos as palavras do presidente do Palmeiras, dizendo que elas incitaram a violência, que não é atitude de um dirigente de clube, ou coisa parecida, vamos pegar menos pesado com essas reações passionais, da mesma maneira que respeitamos nossos amigos torcedores de outro time em discussões sobre futebol.
2 comentários:
Sobre isso, eu li tempos atrás um texto do Monteiro Lobato de 1921 em que, segundo ele, o futebol é a mais humana das manifestações porque desperta nossos mais primitivos sentimentos. Isso em 1921 heim!
Havia guardado para postar no meu blog no mês que vem por ocasião do hepta-campeonato e a consolidação do São Paulo como um clube um nivel acima dos demais. Mas vou postar aqui pq tem muito a ver com o que tu disse ;)
Como prometido, segue texto:
Esse delirio que por aí vai pelo futebol tem seus fundamentos na própria natureza humana. O espetáculo da luta sempre foi o maior encanto do homem. O prazer da vitória, pessoal ou do partido, foi, é e será a ambrosia dos deuses manipulada na terra. Admiramos hoje os grandes filósofos gregos, Platão, Sócrates, Aristóteles. Seus coevos, porém admiravam muito mais os atletas que venciam no estado.
Milon de Crotona, campeão na arte de torcer pescoços a touros, só para nós tem menos importância que seu mestre Pitágoras. Para os gregos, para a massa popular grega, seria inconcebível a idéia de que o filósofo pudesse no futuro ofuscar a glória do lutador.
...Entre nós há o exemplo recente de Friedenreich, um pé de boa pontaria pelo qual nossos meninos são capazes de sacrificar a vida.
E os delírios provocados pelo combate de dois campeões em campo? Impossível assistir-se a espetáculo mais revelador da alma humana que os jogos de futebol em que disputam a primazia paulistanos e italianos em São Paulo.
Não é mais esporte, é guerra. Não se batem duas equipes, mas dois povos, duas nações, duas raças inimigas. Durante todo o tempo da luta, de quarenta a cinquenta mil pessoas deliram em transe, extáticas, na ponta dos pés, coração aos pulos e nervos tensos como cordas de viola. Conforme corre o jogo, há pausas de silêncio absoluto na multidão suspensa, ou deflagrações violentíssimas de entusiasmo,que só a palavra delírio classifica. E gente pacífica, bondosa, incapaz de sentimentos exaltados, sai fora de si, torna-se capaz de cometer os mais horrorosos desatinos.
A luta de vinte e duas feras no campo transforma em feras os cinquenta mil espectadores, possibilitando um enfraquecimento mútuo, num conflito horrendo, caso um incidente qualquer funda em corisco as eletricidades psiquicas acumuladas em cada indivíduo.
Monteiro Lobato em 1921. Trecho publicado recentemente no ótimo 'O Futebol Explica o Brasil'.
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