Era madrugada e o calor abafado da noite a convidava para um passeio. Uma caminhada pelas ruas molhadas por uma chuva vespertina, daquelas trombas d´água típicas de verão.
Ela usa chinelos, mas o que ela mais queria era estar descalça sentir o poder daquela noite.
Ninguém na rua, só carros passam ao seu lado sem se importar com ela; bares estão fechados, nenhum lugar onde ela poderia afogar suas mágoas vindas de onde ela não sabia. Sua única opção é continuar andando e respirar, sentir, pensar aquele ar úmido que a cercava.
Respirava a vida a sua volta; seus desejos, suas vontades, seus quereres, tudo passava por sua cabeça – uma cabeça cheia de pensamentos: trabalho, família, amigos. Ela sorri por se lembrar dos amigos que passaram na sua vida e que dão alegria a ela: “Estamos namorando”, “Comprei um apartamento”, “Minha filha nasce daqui a dois meses. Será uma menina linda, que eu quero que tenha o seu nome”. Conquistas daqueles que mesmo distantes ainda estão presentes em seu pensamento e no seu coração, aqueles que ela escolheu como família.
Sua família: uma família cheia de defeitos, mas que ela sabe que é a família perfeita para ela: malucos, bêbados, fumantes, contentes, alegres, com seus problemas, como todos, mas como poucos capazes de superar tantos problemas, e, acima de tudo, com uma coisa que poucos compreendem: todos exercedores da civilidade. Todos nós somos únicos e civilizados.
No seu vagar pelas ruas ela acaba se perdendo, se perdendo nos seus pensamentos. Ela sorri novamente, pois repara que se perdeu no seu admirável senso de localização. Onde ela estaria? O que a teria levado até alí? Mas ela pouco se importa como voltar para casa, ela sabe que seus pensamentos a levarão de regresso.
Descalça suas havaianas, quer sentir o asfalto molhado em seus pés. Sente o calor entre seus dedos e arrepia a espinha por pensar ha quantos anos não fazia isso: sentir. Sente um nó na garganta. Repara que sente saudades, sente falta daqueles que já foram e dos que ainda estão. Sente abraços sinceros no calor da escuridão iluminada da noite paulistana.
Sem querer, está na porta de casa. Uma lágrima escorre e esbarra em seu sorriso, pois surge um gato preto; é hora de se animar, é sinal de alguém que te ama muito ou logo vai se apaixonar.
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
Controverso
É engraçado como nossos sentimentos podem ser confusos, tão confusos que chegam a ser desconhecidos até para aqueles que, como eu, já haviam pensado que tinham sentido um monte de coisa e que nada mais poderia surpreender.
Durante muitos anos sonhei em encontrar uma pessoa: um sonho de rapaz, bonito, educado, carinhoso, com um corpo “aceitável”*, inteligente, formado, mais velho, ético, atencioso, esportista, divertido, qualidades que são difíceis de enumerar.
Por alguns momentos cheguei a pensar que seria impossível conhecer pessoalmente esse homem, tanto que nunca imaginei que um encontro seria possível. E para minha surpresa maior, esse encontro aconteceu e minhas expectativas, mesmo que falhas e passageiras, foram testadas.
Um cumprimento tímido, mas ao mesmo tempo deslumbrado das duas partes, foi dado, constatamos que aquele que víamos era real, até toques mútuos foram necessários para termos tal certeza e aquela conversa téte à téte, por tanto tempo ensaiada foi colocada em prática. Foi como se nos conhecêssemos realmente ha anos: mesmas aspirações, mesma loucura sadia, mesma cumplicidade com nossos ideais e a mesma vontade de mudar o mundo.
Ele me conhecia tanto que parecia que tinha lido meu manual de instruções e decorado cada linha do “modo de usar”. Me levou a lugares que outros já me levaram e chegou a me falar as mesmas palavras, mas do jeito dele.
Sei que fiz tudo certo dessa vez, não fiz papel de homem: não busquei em lugar nenhum, não insisti no encontro, não forcei uma situação, não disse coisas a mais nem a menos, somente o necessário no intuito de ser inesquecível.
Mas mesmo assim ele teve que ir embora e eu tive que ficar com o perfume dele nos meus cabelos e com a missão de continuar na procura de um alguém como ele, mas que não queira que eu seja apenas inesquecível, mas sim única e para sempre.
*desculpem o adjetivo, mas não encontro outro a altura, pois não sei nem se o adjetivo é o adequado ou se “aceitável” é a palavra certa, muito menos se o aspecto físico realmente importa
Durante muitos anos sonhei em encontrar uma pessoa: um sonho de rapaz, bonito, educado, carinhoso, com um corpo “aceitável”*, inteligente, formado, mais velho, ético, atencioso, esportista, divertido, qualidades que são difíceis de enumerar.
Por alguns momentos cheguei a pensar que seria impossível conhecer pessoalmente esse homem, tanto que nunca imaginei que um encontro seria possível. E para minha surpresa maior, esse encontro aconteceu e minhas expectativas, mesmo que falhas e passageiras, foram testadas.
Um cumprimento tímido, mas ao mesmo tempo deslumbrado das duas partes, foi dado, constatamos que aquele que víamos era real, até toques mútuos foram necessários para termos tal certeza e aquela conversa téte à téte, por tanto tempo ensaiada foi colocada em prática. Foi como se nos conhecêssemos realmente ha anos: mesmas aspirações, mesma loucura sadia, mesma cumplicidade com nossos ideais e a mesma vontade de mudar o mundo.
Ele me conhecia tanto que parecia que tinha lido meu manual de instruções e decorado cada linha do “modo de usar”. Me levou a lugares que outros já me levaram e chegou a me falar as mesmas palavras, mas do jeito dele.
Sei que fiz tudo certo dessa vez, não fiz papel de homem: não busquei em lugar nenhum, não insisti no encontro, não forcei uma situação, não disse coisas a mais nem a menos, somente o necessário no intuito de ser inesquecível.
Mas mesmo assim ele teve que ir embora e eu tive que ficar com o perfume dele nos meus cabelos e com a missão de continuar na procura de um alguém como ele, mas que não queira que eu seja apenas inesquecível, mas sim única e para sempre.
*desculpem o adjetivo, mas não encontro outro a altura, pois não sei nem se o adjetivo é o adequado ou se “aceitável” é a palavra certa, muito menos se o aspecto físico realmente importa
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