terça-feira, 30 de março de 2010

Aquele que faz milagre com a bola

O menino nasceu em Belém, mesma terra de Jesus. Assim como o garoto de Nazaré, teve infância difícil, foi renegado por alguns, mas se destacou e junto com outros expoentes faz com que os olhos de todos se voltassem para aquele grupo que recebia apenas a descrença da grande massa.



O povo, agora, se vê maravilhado com as coisas que ele faz: não converte água em vinho, mas transforma uma má saída de bola do goleiro em um gol incrível, rege o meio de campo de uma equipe que perdia para uma goleada de 9x1, faz com que torcedores de todos os credos incentivem a mudança de pensamento de um único ser cabeça-dura e, assim, o convoque para a seleção de guerreiros que representará a nação.

Cabe à massa clamar e que sua voz seja ouvida e esperar por mais espetáculos proporcionados por este humilde rapaz, mesmo porque o moleque pode não ser Jesus Cristo, mas faz milagre com a bola.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Fim da crônica esportiva?

O Brasil perdeu hoje um dos últimos exemplos de cronistas esportivos que viam o futebol com arte e paixão, não como aspecto tático, frio e com objetivo somente no resultado.

Armando Nogueira amava o futebol e traduziu em palavras o futebol magnífico apresentado pelos craques de antigamente, craques que só reaparecerão depois da próxima era glacial.

O jornalista, que fazia dos lances futebolísticos poesia, morre deixando herdeiros, os mesmos herdeiros e discípulos de Nelson Rodrigues, sempre ávidos pelo lirismo proporcionado por uma partida de futebol.

Não podemos deixar que este lirismo e esta paixão pelo esporte bretão morram junto com Armando Nogueira. Seremos ativistas poéticos fanáticos pela modalidade jogada nas quatro linhas caiadas de um tapete verde.
Não deixaremos que a crônica futebolística se esvaia junto com a morte de nossos grandes mestres.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Bate e volta na ponte aérea

A pedido dos meus chefes fiz uma coisa que nunca tive a oportunidade de fazer: um bate e volta até a Cidade Maravilhosa.

Minha última ida ao Rio de Janeiro foi num voo noturno para pagar menos pela viagem, mas dessa vez fui a um horário que me possibilitava apreciar todas as belezas que a cidade carioca nos proporciona. E como é bom viajar de avião!

No momento do meu embarque o céu paulistano me deixava ver a cidade que tão bem conheço e ainda consegui ver o prédio onde moro da janela do avião. Ao ver minha cidade aos meus pés, pude reafirmar o quanto eu amo o lugar onde eu nasci.

Em pouco tempo de voo, entre uma nuvem e outra, reparo que sobrevoo o mar. Que vontade de dar um mergulho e fugir da realidade.

É bom como em tão pouco tempo já estamos pousando em terra carioca. Reparo nisso antes do piloto falar, pois vejo ao longe o Pão de Açúcar, e não lembrava o quanto ele é alto. Vejo o Cristo e seus andaimes, a Lagoa, o Forte de Copacabana e o aeroporto Santos Dumont. Nunca vi um aeroporto tão doido; será que nunca nenhum avião caiu no mar?

Chego à cidade e faço o que tenho que fazer. Queria muito ter tempo suficiente para pegar um taxi, rumar para Copacabana e tomar um chop com batata frita num bar que tem na orla (nem lembro o nome do lugar, mas acho que tinha um avião como logo; se eu vir o bar, entro e sei que não vou me decepcionar).

Era inevitável a vontade de tirar minha roupa social e meus saltos que tanto me incomodavam, tamanho era o calor que fazia. Quando tenho a oportunidade, sento num banco do aeroporto e saco minhas Havaianas da bolsa. Acho que a sensação que tive se compara à que tinha Braz Cubas ao tirar seus sapatos apertados.

Procuro um sorvete para me refrescar, mas não encontro nada que me agradasse. O que tomar para me refrescar? A caminho da sala de embarque vejo uma loja que vendia o elixir para o meu momento: cerveja! Era uma Skol sabiamente gelada, servida no copo frio, uma verdadeira perfeição para o meu calor. Brindei à minha redenção e degustei cada gole, vigiada por pessoas certas de que eu era um ET (amarela escritório, cabelo preso com displicência, roupa social amassada e Havaianas no pé).

No caminho de volta, sinto vontade de saltar do avião e deitar nas nuvens, só pra ter a certeza de que elas são mais aconchegantes que o meu colchão.

Meu sorriso é inevitável quando vejo São Paulo novamente pela janela. Estou de volta pra casa depois de menos de 4 horas longe dela. Sorrio quando desço do avião e não sinto aquela brisa sufocante que gruda a roupa em nossa pele.

Saio pela porta do aeroporto de Congonhas como se a Porta da Esperança tivesse aberta diante de mim: o mundo da realidade estava à minha frente e eu não tinha medo dela, pois ela era a minha casa, o meu caos, o meu mundo, a minha cidade.