terça-feira, 30 de junho de 2009

Alguma coisa está fora da ordem

Estou na USP desde 2003 e nunca acompanhei uma greve de longe, não que eu fosse uma ativista ferrenha nesses anos passados, mas era diretamente afetada – sem aulas, sem acesso à biblioteca, comprometendo todo meu cronograma anual.

Nos primeiros anos de faculdade era bem mais ativa; participava de reuniões e assembleias, expondo minhas opiniões diante das reivindicações. Mas depois de dois anos de vida acadêmica e três paralisações, vi que a coisa era sistemática: todo mês de maio tínhamos um indicativo de greve. Com isso, passei a ser uma expectadora nem sempre militante do movimento grevista.

Só voltei a atuar novamente, dessa vez de forma indireta, na greve de 2007, mesmo não concordando com a invasão do prédio da Reitoria, mas por ver que naquele ano havia uma reivindicação sustentável por parte dos alunos.

Mas agora, neste ano de 2009 a coisa está diferente. Não piso na USP há mais de um ano e é a primeira greve que acompanho exclusivamente através dos meios de comunicação de massa e depois da reportagem feita pelo CQC, apresentada ontem, não pude me furtar de expor minha indignação diante da atual imprensa brasileira.

Cito primeiramente o CQC por achar que o “humorístico-político” da Band iria veicular todos os lados da atividade grevista, fato que, infelizmente, não ocorreu. Se detiveram a um pequeno grupo da FEA que nem mobilizados estavam para exigir o retorno às aulas. Se militassem realmente pela não-greve, estou certa que conseguiriam adesões com o “pessoal de ciências humanas”, como eles chamaram.

Em nenhum momento da reportagem vi um aluno da FFLCH ser entrevistado, aluno este que sofre com a falta de repasse de verbas para a melhoria nas condições de aprendizagem. Enquanto a FEA tem a melhor lanchonete do campus, com pães de queijo a R$ 3, e salas com ar-condicionado de última geração, a FFLCH conheceu ventiladores nas suas salas mais utilizadas apenas em 2005!

Outro meio de comunicação que por preguiça ou falta de tempo escreveu matéria sobre a Greve na USP sem bases fundamentadas foi O Estado de São Paulo. Pensava que por ser um editorial, o assunto seria abordado com vagar e análise, mas mais parecia uma reportagem de jornal marrom, que pouco se importa com a veracidade e com todos os pontos de vista relevantes a este tema.

A imprensa brasileira, que passa por uma das suas maiores crises, com o fim da obrigatoriedade do diploma e com o boom da Internet, onde a informação pipoca a cada momento, deveria se concentrar no jornalismo de qualidade para de destacar dessas enxurradas de informações que estamos suscetíveis e oferecer ao seu público todas as informações necessárias para a formação de uma opinião, não uma opinião já formada.

Eu, como integrante da comunidade uspiana sei o que acontece na universidade e todos os problemas enfrentados por alunos, professores e funcionários, mas e quem crê que a USP é um lugar dos sonhos que só aliens conseguem entrar, o que pode pensar?

4 comentários:

Roger disse...

Podem, talvez, pensar que aliens, por serem extraterrestes, fazem greve a torto e à direita para prejudicar os terráqueos; ou que aliens, por serem estudiosos e responsáveis, fazem greve para, de fato, reivindicarem melhorias mais do que necessárias.
A questão é: que tipo de alien são os funcionários, professores e estudantes da USP?

André Henriques disse...

Ah... Manu, vamos aos fatos, pouquíssimas pessoas estão de fato interessadas nas melhorias necessárias. Acho que na história recente apenas duas greves foram legítimas e apenas uma foi leva a sério: 2002 e 2007, e apenas 2002 foi levado a sério. Nesses dois momentos havia clima político para promover alterações através de movimentos mais radicais: a falta de professores na FFLCH, sobre tudo na nossa Letras, e os decretos do Serra.

Em 2002, os estudantes conseguiram os professores. Em 2007, os estudantes provaram o quanto são massa de manobra e só fortaleceram as reitorias.

Enquanto nós, estudantes e ex-estudantes, não conseguirmos mostrar que quem está ou esteve na USP pode propor algo de interessante que mude de fato algo relevante na vida das pessoas, nossa briga sempre será em vão e para ninguém ver. Acho que o sarro é mais culpa nossa, pois nós é que damos essa chance para imprensa.

Quanto ao CQC, achei sensacional! Tirou barato dos dois lados e fez o que eles se propõe a fazer, que não é exatamente uma crítica política, e sim uma sátira dessas situações todas. Acho que a gente é que super valoriza o que eles falam, achando que eles são grandes pensadores políticos que vão elucidar as pessoas.

Cristina Casagrande disse...

Manu, eu escrevi um comentário enorme aqui e apaguei. Acho que merce um post no meu blog...rs.
Em tempo: falar sobre a greve na USP é um beco sem saída pra mim.
E, ah, eu não gosto do CQC não. Pra mim, é um Pâncio light.

Beijos

Maria Carolina disse...

Concordo qdo vc diz que a imprensa passa por uma crise...

E olha que nem estou pedindo pra entrarem no mérito contra greve vs. a favor da greve.

Lamentável.