sábado, 27 de setembro de 2008

Interrogatórios

Entendo que quando uma pessoa quer te conhecer ela faça perguntas sobre você, mas para tudo tem um limite.

Era a primeira vez que conhecia um carinha e como não sou das pessoas mais acessíveis num primeiro momento, não deixei que a barreira fosse transposta tão facilmente – afinal de contas, gosto de preservar meu espaço e que o mesmo seja respeitado. Mas o distinto rapaz não obedeceu muito e, sem titubear, começou um interrogatório:
- Você está brava?
- Não! E porque estaria?
- Sei lá, está calada...
- Não sou de falar muito com as pessoas que nem conheço direito.
- Nossa, pra que esse mal humor?
- E quem disse que eu sou mal humorada? Só sou séria! Não posso?

Caramba, é difícil pra um ser humano entender que se você não está a fim de papo?

Por uma coincidência reencontrei o moço na semana seguinte, numa ocasião que não estava tão cansada como antes e que a proposta de uma baladinha até que era bem vinda.

Na dita baladinha, conversamos. Conheci um tanto melhor o rapaz e ele nem fez as mesmas perguntas irritantes:
- Qual seu telefone?
- Se é pra me ligar eu dou, se é pra ser só gentil, esquece!
- Se estou pedindo seu telefone é porque eu vou te ligar.

Três dias depois, ele me ligou. Nos encontramos, e a conversa acabou rolando, quer dizer, um novo interrogatório:
- Você já se apaixonou?
- Claro que sim! Que mulher nunca se apaixonou?
- Você ainda tem contato com ele?
- Não muito. Mas porque você está me perguntando isso?
- É porque eu ainda tenho contato com a minha ex.
- E?
- Eu tenho um filho com ela.
- Ahn?

Não demonstrei meu abalo e usei meu jogo de cintura para mudar o rumo daquela prosa. Ficamos de nos falar nos próximos dias.

Próximos dias pra mim, são uns três ou quatro dias, mas para ele foram uns dez. Como temos amigos em comum, acabei sendo convidada para uma pizza em sua casa. Depois da pizza, outra sessão de perguntas, mas dessa vez, sem nenhuma resposta da minha parte:
- Como você vai embora? Vai chamar um taxi ou vai pega-lo na rua?

Peraí! Pára o bonde que eu quero descer! Peguei o número do rádio-taxi, minhas coisas e rumei pra porta sem pronunciar uma palavra.

Indignada nem esperava um novo telefonema ou um novo encontro. Só que por acaso o encontrei num jogo de futebol, onde fui prestigiar uns amigos meus e tomar umas cervejas sem compromisso.

No final do jogo reparo que o cara estava lá e me aborda:
- Tudo bem?
- Tudo ótimo!
- O que você tem?
- Frio!
- Você está estranha...

Nem continuei... já era tarde, fazia um frio dos diabos e mesmo assim os mosquitos teimavam em querer meu sangue.

Quando já estava em casa, meu telefone toca.
- Posso ir à sua casa?
- Faz o que você quiser. Pouco tempo depois ele estava na porta, tocando a campainha.
- Você está brava comigo?
- Brava? Não! Como você ficaria se você fosse à casa de uma pessoa que você quer estar junto e ela te pergunta como ela voltará para seu devido lar?
- Acho que eu te devo desculpas.
- Se você acha isso...
- Você conheceu alguém?
- Não é da sua conta!

Já não estava muito empolgada com aquele incansável jogo de perguntas e respostas, mas num sábado, meu telefone volta a tocar:
- O que você está fazendo?
- Nada.
- Vamos nos ver? Pode vir pra minha casa?
- Vem pra minha você!

Uma disputa de quem vai pra casa de quem é travada, mas sou vencida pelo cansaço. Chego à casa do rapaz já tarde e, sem pestanejar, ele inicia outro enfadonho interrogatório:
- Por que você não fala o que sente?
- Porque sempre que eu falo tudo que sinto acabo me machucando de alguma maneira. Fora que prefiro agir mais e falar menos.
- Você está dizendo que eu tenho que fazer mais?
- Não, estou falando que eu faço mais que falar.
- Ahn... (silêncio) Por que você é tão rancorosa?
- Você acha que se eu fosse rancorosa eu pegaria um taxi e viria pra sua casa tarde da noite? – Sem esperar a resposta, peguei minha bolsa e fui embora.

Adoro conversar, conhecer gente nova e até ficar com gente interessante, mas enfrentar interrogatórios a cada encontro e ainda ouvir desaforo, já é demais!

4 comentários:

Anônimo disse...

Quis sentir o doce saber do errado, antes de sentir o amargo de ter errado.

Cristian disse...

É, o "joselito lifestyle" espalha-se a olhos vistos...

Cristina Casagrande disse...

Nossa, Manu, depois da pergunta do taxi eu nem dava mais trela. "Oi" e "tchau" só porque eu sou educadinha. Eolhelá.

André Henriques disse...

Realmente, tem gente que tem a noção de um elefante numa sala cheia de cristaleiras...

Saudadona! =)