Entendo que quando uma pessoa quer te conhecer ela faça perguntas sobre você, mas para tudo tem um limite.
Era a primeira vez que conhecia um carinha e como não sou das pessoas mais acessíveis num primeiro momento, não deixei que a barreira fosse transposta tão facilmente – afinal de contas, gosto de preservar meu espaço e que o mesmo seja respeitado. Mas o distinto rapaz não obedeceu muito e, sem titubear, começou um interrogatório:
- Você está brava?
- Não! E porque estaria?
- Sei lá, está calada...
- Não sou de falar muito com as pessoas que nem conheço direito.
- Nossa, pra que esse mal humor?
- E quem disse que eu sou mal humorada? Só sou séria! Não posso?
Caramba, é difícil pra um ser humano entender que se você não está a fim de papo?
Por uma coincidência reencontrei o moço na semana seguinte, numa ocasião que não estava tão cansada como antes e que a proposta de uma baladinha até que era bem vinda.
Na dita baladinha, conversamos. Conheci um tanto melhor o rapaz e ele nem fez as mesmas perguntas irritantes:
- Qual seu telefone?
- Se é pra me ligar eu dou, se é pra ser só gentil, esquece!
- Se estou pedindo seu telefone é porque eu vou te ligar.
Três dias depois, ele me ligou. Nos encontramos, e a conversa acabou rolando, quer dizer, um novo interrogatório:
- Você já se apaixonou?
- Claro que sim! Que mulher nunca se apaixonou?
- Você ainda tem contato com ele?
- Não muito. Mas porque você está me perguntando isso?
- É porque eu ainda tenho contato com a minha ex.
- E?
- Eu tenho um filho com ela.
- Ahn?
Não demonstrei meu abalo e usei meu jogo de cintura para mudar o rumo daquela prosa. Ficamos de nos falar nos próximos dias.
Próximos dias pra mim, são uns três ou quatro dias, mas para ele foram uns dez. Como temos amigos em comum, acabei sendo convidada para uma pizza em sua casa. Depois da pizza, outra sessão de perguntas, mas dessa vez, sem nenhuma resposta da minha parte:
- Como você vai embora? Vai chamar um taxi ou vai pega-lo na rua?
Peraí! Pára o bonde que eu quero descer! Peguei o número do rádio-taxi, minhas coisas e rumei pra porta sem pronunciar uma palavra.
Indignada nem esperava um novo telefonema ou um novo encontro. Só que por acaso o encontrei num jogo de futebol, onde fui prestigiar uns amigos meus e tomar umas cervejas sem compromisso.
No final do jogo reparo que o cara estava lá e me aborda:
- Tudo bem?
- Tudo ótimo!
- O que você tem?
- Frio!
- Você está estranha...
Nem continuei... já era tarde, fazia um frio dos diabos e mesmo assim os mosquitos teimavam em querer meu sangue.
Quando já estava em casa, meu telefone toca.
- Posso ir à sua casa?
- Faz o que você quiser. Pouco tempo depois ele estava na porta, tocando a campainha.
- Você está brava comigo?
- Brava? Não! Como você ficaria se você fosse à casa de uma pessoa que você quer estar junto e ela te pergunta como ela voltará para seu devido lar?
- Acho que eu te devo desculpas.
- Se você acha isso...
- Você conheceu alguém?
- Não é da sua conta!
Já não estava muito empolgada com aquele incansável jogo de perguntas e respostas, mas num sábado, meu telefone volta a tocar:
- O que você está fazendo?
- Nada.
- Vamos nos ver? Pode vir pra minha casa?
- Vem pra minha você!
Uma disputa de quem vai pra casa de quem é travada, mas sou vencida pelo cansaço. Chego à casa do rapaz já tarde e, sem pestanejar, ele inicia outro enfadonho interrogatório:
- Por que você não fala o que sente?
- Porque sempre que eu falo tudo que sinto acabo me machucando de alguma maneira. Fora que prefiro agir mais e falar menos.
- Você está dizendo que eu tenho que fazer mais?
- Não, estou falando que eu faço mais que falar.
- Ahn... (silêncio) Por que você é tão rancorosa?
- Você acha que se eu fosse rancorosa eu pegaria um taxi e viria pra sua casa tarde da noite? – Sem esperar a resposta, peguei minha bolsa e fui embora.
Adoro conversar, conhecer gente nova e até ficar com gente interessante, mas enfrentar interrogatórios a cada encontro e ainda ouvir desaforo, já é demais!
sábado, 27 de setembro de 2008
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Da série "O que estou fazendo aqui": parte 4
Preciso dizer alguma coisa?
O que eu estou fazendo aqui no México, vendo homens feios a cada quarteirão?
Porque não estou no Rio de Janeiro curtindo uma praia e ainda desfrutando de uma bela paisagem?
Por vezes tenho certeza de que sou mesmo uma loser e que o Rio de Janeiro esteve mais lindo que nunca!
O que eu estou fazendo aqui no México, vendo homens feios a cada quarteirão?
Porque não estou no Rio de Janeiro curtindo uma praia e ainda desfrutando de uma bela paisagem?
Por vezes tenho certeza de que sou mesmo uma loser e que o Rio de Janeiro esteve mais lindo que nunca!
domingo, 7 de setembro de 2008
É a vez da jaguatirica
Muitos devem se lembrar da “Desculpa do tatu”, onde um cara deu a desculpa esfarrapada de que tinha um tatu debaixo do carro dele e que, por isso, não poderia me ver. E não é que esse bendido cara não reapareceu do nada na minha vida na minha passagem por São Paulo?
Estava eu na fila do DETRAN a fim de tirar minhas dúvidas sobre a renovação da minha habilitação e sou tocada por alguém, olho pra trás e quem é? Sim, era ele! Tantos lugares para reencontrá-lo e eu o reencontro bem no lugar mais inusitado.
Depois de respondidas minhas perguntas burocráticas, vou ao encontro do rapaz que me esperava na porta do prédio, como sempre simpático e sorridente. Conversamos sobre nossas viagens e como iam nossas vidas desde quando o tatu atravessou nosso caminho.
Conversa vai, conversa vem e resolvemos sair daquele ambiente cinza e frio do DETRAN e vamos a caminho o Obelisco do Ibirapuera, temas são alterados e aconteceu uma coisa que eu nem esperava que fosse acontecer de novo: a gente se beija. Como sempre, os beijos e os abraços dados em plena na via pública de grande movimento são bons, mas não tem o mesmo sabor de antes. (Efeito tatu, será?)
Continuamos conversando abraçados, mas de repente, ele me pergunta:
- Porque você nunca mais me ligou?
- Pra quê? Pra você dizer que tem que salvar uma jaguatirica?
- Você não engoliu a história do tatu, né?, mas foi verdade!
- Sei... sei...
Minha indiferença continuou mesmo com tantos beijos e abraços. Num dado momento, ele dispara:
- Já sei! Vamos comer num japonês esse final de semana.
- Duvido! Você só fala, não faz nada!
- Sábado de tarde a gente vai à Liberdade, come uma comida gostosa e se curte um monte.
- Tá bom, vou fingir que acredito que você vai me ligar. Aposto que uma jaguatirica terá que ser salva!
- Tá duvidando de mim? Espere pra ver! Sábado de manhã eu te ligo pra dizer que horas eu passo na sua casa.
- Tudo bem, nem vou esperar.
Ainda bem que não esperei. Saí durante todo o sábado e curti minha cidade. Não comi nenhum temaki, sushi ou coisa do gênero, pois garanto que uma jaguatirica ou uma capivara precisaram ser salvas pelo distinto rapaz.
Estava eu na fila do DETRAN a fim de tirar minhas dúvidas sobre a renovação da minha habilitação e sou tocada por alguém, olho pra trás e quem é? Sim, era ele! Tantos lugares para reencontrá-lo e eu o reencontro bem no lugar mais inusitado.
Depois de respondidas minhas perguntas burocráticas, vou ao encontro do rapaz que me esperava na porta do prédio, como sempre simpático e sorridente. Conversamos sobre nossas viagens e como iam nossas vidas desde quando o tatu atravessou nosso caminho.
Conversa vai, conversa vem e resolvemos sair daquele ambiente cinza e frio do DETRAN e vamos a caminho o Obelisco do Ibirapuera, temas são alterados e aconteceu uma coisa que eu nem esperava que fosse acontecer de novo: a gente se beija. Como sempre, os beijos e os abraços dados em plena na via pública de grande movimento são bons, mas não tem o mesmo sabor de antes. (Efeito tatu, será?)
Continuamos conversando abraçados, mas de repente, ele me pergunta:
- Porque você nunca mais me ligou?
- Pra quê? Pra você dizer que tem que salvar uma jaguatirica?
- Você não engoliu a história do tatu, né?, mas foi verdade!
- Sei... sei...
Minha indiferença continuou mesmo com tantos beijos e abraços. Num dado momento, ele dispara:
- Já sei! Vamos comer num japonês esse final de semana.
- Duvido! Você só fala, não faz nada!
- Sábado de tarde a gente vai à Liberdade, come uma comida gostosa e se curte um monte.
- Tá bom, vou fingir que acredito que você vai me ligar. Aposto que uma jaguatirica terá que ser salva!
- Tá duvidando de mim? Espere pra ver! Sábado de manhã eu te ligo pra dizer que horas eu passo na sua casa.
- Tudo bem, nem vou esperar.
Ainda bem que não esperei. Saí durante todo o sábado e curti minha cidade. Não comi nenhum temaki, sushi ou coisa do gênero, pois garanto que uma jaguatirica ou uma capivara precisaram ser salvas pelo distinto rapaz.
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Pensata
Começa a entardecer e ela precisa se refugiar. Esconde-se no meio do emaranhado de prédios desconhecidos e acende um cigarro. Seu refúgio são seus pensamentos, pensamentos estes que pairam pelo que ela mais questiona. Por quê? E começa a divagar...
Lembra de todos que foram um dia importantes para ela, daqueles que se importavam com ela, e até daqueles que nunca importaram tanta coisa.
Recorda de tantas elas-mesma que teve que ser para agradar e não ficar sozinha e chega a pensar que desde o momento que ela decidiu ser ela-mesma, está sozinha. Será que a autenticidade seria um empecilho para ela ter alguém que se importasse com ela?
Passam pela sua mente os momentos que marcaram sua vida, momentos estes proporcionados por tantos que ora fazem parte do seu cotidiano ora apenas das suas recordações.
Enaltece todos aqueles que fizeram parte da sua vida: desde aqueles que marcaram sua vida por anos, por meses, por dias, ou por horas, de diversas nacionalidades, de distintos trejeitos, de dúbias personalidades, de diferentes maneiras de ver a vida.
Com um trago ela deixa o passado e se recorda do presente, um presente cheio de desejos e aspirações, um presente repleto de propostas e promessas, mas sem nenhuma realização. Concentra-se naqueles que podem significar algum motivo de nostalgia futura, igual à que tem agora com outros do passado. Porém estes são tão iguais ou piores que aqueles que já marcaram sua vida; ou se importaram demais com ela, ou quase nada, ou nenhum pouco, os problemas nem sempre são os mesmos, mas impedem que façam dela uma mulher feliz.
Outro trago, agora ela não pensa em nada, apenas repara num círculo formado pela fumaça. Quem estaria pensando nela?
Lembra de todos que foram um dia importantes para ela, daqueles que se importavam com ela, e até daqueles que nunca importaram tanta coisa.
Recorda de tantas elas-mesma que teve que ser para agradar e não ficar sozinha e chega a pensar que desde o momento que ela decidiu ser ela-mesma, está sozinha. Será que a autenticidade seria um empecilho para ela ter alguém que se importasse com ela?
Passam pela sua mente os momentos que marcaram sua vida, momentos estes proporcionados por tantos que ora fazem parte do seu cotidiano ora apenas das suas recordações.
Enaltece todos aqueles que fizeram parte da sua vida: desde aqueles que marcaram sua vida por anos, por meses, por dias, ou por horas, de diversas nacionalidades, de distintos trejeitos, de dúbias personalidades, de diferentes maneiras de ver a vida.
Com um trago ela deixa o passado e se recorda do presente, um presente cheio de desejos e aspirações, um presente repleto de propostas e promessas, mas sem nenhuma realização. Concentra-se naqueles que podem significar algum motivo de nostalgia futura, igual à que tem agora com outros do passado. Porém estes são tão iguais ou piores que aqueles que já marcaram sua vida; ou se importaram demais com ela, ou quase nada, ou nenhum pouco, os problemas nem sempre são os mesmos, mas impedem que façam dela uma mulher feliz.
Outro trago, agora ela não pensa em nada, apenas repara num círculo formado pela fumaça. Quem estaria pensando nela?
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